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Areal foi palco da decisão do Golpe Militar de 64

COMANDANTES MILITARES DO RIO DE JANEIRO (GEN. MOURÃO FILHO), QUE SE ADERIRAM ÀS TROPAS MINEIRAS, DO GENERAL MURICY, NO CENTRO DA CIDADE DE AREAL - RJ. / FOTO: ANA MARIA MÉDICI)

Em 1º de abril de abril de 1964, há exatos 50 anos, acontecia em Areal, o então 4º distrito de Três Rios, um marco na história do Brasil.

A cidade amanheceu tomada por milhares de soldados fortemente armados, aliados ao governo de João Goulart, dispostos a enfrentar as tropas que vinham de Juiz de Fora (MG), com destino ao Rio de Janeiro, para derrubar o então presidente.

Uma espécie de Quartel General foi montado em um posto de gasolina hoje conhecido como “Posto do Nino”, bem no Centro da cidade. Caminhões do exército levaram a população para bairros distantes, na cidade de Três Rios, como Bemposta, Fazenda Velha e Portões da Serra. E quem se recusou a ir para esses lugares, buscou abrigo na Igreja Matriz Nossa Senhora das Dores, sob as bênçãos do Padre Cirilo.
Uma guerra estaria prestes a começar.



JOÃO SANSEVERINO (NINO)
FOTO: JORNAL DE AREAL
Em uma entrevista à jornalista Leila Maria Rinaldi Vieira, numa reportagem ao Jornal de Areal, em 1997, João Sanseverino, o Nino, dono do posto de gasolina, falou sobre os momentos de tensão que os arealenses passaram, temendo uma guerra sangrenta.

“Não deixavam passar ninguém nas ruas. Muitas pessoas que chegavam  de ônibus tiveram que se jogar dentro do rio, para conseguirem chegar em casa, disse Nino.



CHEGADA DOS SOLDADOS MINEIROS AO CENTRO DE AREAL (FOTO: ANA MARIA MÉDICI)

O arealense contou ainda que no viaduto sobre o rio Piabanha (no Centro da cidade) foram instaladas bananas de dinamite para que o mesmo fosse detonado quando as tropas mineiras se aproximassem, para que os soldados não conseguissem avançar. “Eu vi! Foi todo minado com dinamites e bombas para explodir e ser destruído, cortando o acesso dos soldados mineiros a caminho do Rio. Fiquei o tempo todo com eles, e não se opuseram à minha permanência, como dono do posto de gasolina”, disse.

“As tropas de Petrópolis chegaram, o comandante disse: “É uma revolução, dispense todo mundo! Não queremos ninguém na rua!”, em contato com comando do Rio. Colocaram homens armados com metralhadoras em cima do posto, dos lados, enfim em todos os lugares ao longo das estradas, que se ligavam à União Indústria. Os morros próximos ficaram completamente tomados pelos soldados e, segundo algumas pessoas, ninguém viu nenhum soldado subir, mas na hora que acabou a questão, soldados saiam descendo como formiga”, contou, emocionado.

"Em determinada hora, depois do almoço, veio uma patrulha de Minas trazendo um oficial para conversar com o pessoal do Rio. A conversa foi com portas fechadas. Discutiram muito e num determinado momento, o oficial disse que ia embora e começaria a luta porque era impossível chegar a um acordo. Em seguida, apareceu outro jipe trazendo o General Mourão Filho, que falou durante muito tempo com o Rio de Janeiro pelo telefone”, completou. 

Segundo Nino, o telefone pelo qual os generais conversavam, era de seu posto de gasolina. “Areal tinha poucos telefones. Uns 6 ou 7, e o posto Texaco tinha um desses, o 25, que era operado pela Zezé (funcionária dele)”, informou.

Terminada a conversa, todos os oficiais foram embora, e eles chegaram em um acordo. “A pista da União e Indústria foi desimpedida e os mineiros passaram sem problemas, para o Rio. O que aconteceu é que as tropas do Rio se uniram às tropas de Minas e partiram para o Rio de Janeiro. Foi realmente uma alegria a chegada dos mineiros unidos aos do Rio. E Areal, que estava numa tensão tão grande, onde o silêncio imperava, transformou-se num verdadeiro palco de festas. Os soldados fazendo um sinal de vitória com as mãos desfilavam pelas ruas”, falou, emocionado.

Para finalizar, Nino questiona o porquê de Areal não ter sido citada nos grandes noticiários sobre a revolução. Até hoje, muitos arealenses que nem eram nascidos, não sabem do importante papel que representou nossa cidade, neste que foi um acontecimento importantíssimo para o país. Graças ao espírito simples e não belicioso do brasileiro, os acontecimentos foram estes, mas se fossem o contrário, se houvesse realmente uma revolução sangrenta, talvez todos tivessem conhecido nossa terra. Talvez, por este motivo devamos agradecer a Deus pelo esquecimento”, terminou.

(Reportagem: Arthur Vieira / De: Jornal de Areal (JA) - Setembro, 1997)
Essa reportagem foi construída com base no texto de Leila Maria Rinaldi Vieira, numa reportagem do JA, sobre o tema “Memórias de Areal”.

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